Dossiê Perspectivas multidisciplinares sobre desinformação em ciência e saúde (v. 16, n. 2) abr./jun. 2022
Um dos maiores desafios que enfrentamos atualmente é a circulação da desinformação. Nos últimos anos, foi recorrente uma preocupação no debate público sobre temas como “pós-verdade”, “fatos alternativos” e “notícias falsas”. Ao longo da pandemia da covid-19, pudemos perceber o quanto a ciência tem sido acionada tanto nas mídias sociais, quanto por lideranças políticas e em enquadramentos jornalísticos e midiáticos que geralmente enfatizam mais uma crise política e/ou científica do que a crise sanitária. Nesse complexo campo de disputa e usos da informação científica, vemos emergir diferentes formas de produção e consumo da informação, algumas classificadas como “desinformação”, como “teorias da conspiração” relacionadas à ciência, “negacionismo científico”, “pseudociência”, fake sciences e “paraciência”.
Muitas destas formas de desinformação relacionadas à ciência utilizam a própria produção científica para validação de argumentos e sistemas de crença, ainda que avessos às evidências científicas predominantes, alterando significativamente a forma como a informação científica circula na mídia e nos ambientes digitais. E os altos índices de compartilhamento que tais pesquisas atingem, aferindo um aparente impacto social por meio de métricas alternativas, que medem seu desempenho em fontes da web social, agravam ainda mais os desafios de compreensão do que sua recepção e circulação representam.
Em contexto de crise sanitária global, a autoridade das comunidades epistêmicas modernas é momentaneamente suspensa, dando lugar à emergência de outras autoridades, não mais aquelas consolidadas na modernidade, tensionando valores democráticos já fragilizados em um contexto de crise institucional e epistêmica. Neste contexto, surgem influenciadores digitais, líderes religiosos, comunitários ou políticos que exercem influência na forma como os sujeitos se relacionam com a informação científica relacionada à saúde, afetando diretamente a forma como os sujeitos recebem a informação científica.
Diante deste contexto de disputas sobre a informação relacionada à saúde, o objetivo deste dossiê é criar uma interlocução entre diferentes áreas do saber para lançar luz sobre processos de desinformação, especialmente quando relacionado à ciência e à saúde. Apesar do crescimento de estudos voltados para a desinformação e saúde, entender os mecanismos de consumo sobre a informação e percepção sobre a comunicação pública em saúde e os usos sociais da ciência é de grande relevância, sobretudo em um contexto de crise sanitária. Portanto, é de grande importância coletâneas que tenham como proposta realizar articulações multidisciplinares para uma melhor compreensão sobre as causas, consequências e desafios advindos desse processo de circulação de desinformação relacionada à ciência e à saúde.
Diante disso, a proposta deste dossiê consiste em discutir os diferentes regimes de verdade, sistemas de crença e gramáticas morais em que os atores se baseiam para elaborar críticas à ciência e justificações para contestar ou defender autoridades epistêmicas em torno de controvérsias científicas e seus atravessamentos políticos.
Alguns dos tópicos de interesse neste dossiê, mas que não se limita a eles, são:
- As diferentes perspectivas sobre os significados atribuídos à desinformação, especialmente, à desinformação científica e à desinformação científica em saúde;
- Análises dos sentidos concedidos à ciência e suas representações nos processos de desinformação científica;
- Pesquisas que discutam os processos desinformativos relacionados à ciência e à saúde por meio de temas concernentes à vacinação, “negacionismos”, “fake news”, “fake sciences”, “paraciência”;
- Os diferentes usos da ciência e da saúde, e seus imbricamentos com a política, atentando-se ao pressuposto de que não há separação entre esses campos, o que nos interessa é como essas interseções são construídas e defendidas;
- Discussão e reflexão sobre os sentidos da crise (moderna, científica, sanitária);
- Processos de circulação de desinformação relacionados à prevenção e ao cuidado da saúde;
- Estudos sobre formas, estratégias de enfrentamento e combate à desinformação científica em saúde;
- Pesquisas que analisam processos de qualificação, mensagens e públicos de ações/campanhas de desinformação em saúde;
- Análises de categorias e de enquadramento de tipologias de desinformação em ciência e saúde;
- Fluxos transnacionais de circulação de desinformação científica;
- Estudos altmétricos e de redes de comunidades de atenção em torno da desinformação em saúde;
- Investigações sobre desinformação e democracia que analisem o papel de gestores públicos, agentes políticos e coletivos nos processos de desinformação em ciência e saúde.
Editores convidados: Hully Guedes Falcão (Fiocruz), Thaiane Oliveira (UFF) e Ronaldo F. Araújo (UFAL).
Prazo de submissão de artigo: até 15 de março de 2022.
Publicação: abril/junho de 2022
Ao submeter o trabalho, por favor, use a categoria Dossiê Perspectivas multidisciplinares sobre desinformação em ciência e saúde.
Dossier Multidisciplinary perspectives on disinformation in science and health (v. 16, n. 2) Apr./Jun. 2022
One of the biggest challenges we face today is the circulation of misinformation. In recent years, there has been a recurring concern in the public debate about issues such as "post-truth," "alternative facts," and "fake news." Throughout the Covid-19 pandemic, we could see how science has been triggered both in social media, by political leaders, and in journalistic and media framings that generally emphasize a political and/or scientific crisis more than the health crisis. In this complex field of dispute and uses of scientific information, we see different forms of production and consumption of information emerging, some classified as "disinformation", such as "conspiracy theories" related to science, "scientific denialism", "pseudoscience", fake sciences and " para-science".
Many of these forms of science-related disinformation use scientific production itself to validate arguments and belief systems, even if averse to the prevailing scientific evidence, significantly altering the way scientific information circulates in media and digital environments. And the high rates of sharing that such research achieves, gauging an apparent social impact through alternative metrics that measure its performance in social web sources, further aggravate the challenges of understanding what its reception and circulation represent.
In a context of global health crisis, the authority of modern epistemic communities is momentarily suspended, giving way to the emergence of other authorities, no longer those consolidated in modernity, straining democratic values already weakened in a context of institutional and epistemic crisis. In this context, digital influencers, religious, community or political leaders emerge and exert influence on the way subjects relate to health-related scientific information, directly affecting the way subjects receive scientific information.
Given this context of disputes over health-related information, the objective of this dossier is to create an interlocution between different areas of knowledge to shed light on disinformation processes, especially when related to science and health. Despite the growth of studies focused on disinformation and health, understanding the mechanisms of consumption of information and perception about public communication in health and the social uses of science is of great relevance, especially in a context of health crisis. Therefore, it is of great importance to compile collections that have as a proposal to perform multidisciplinary articulations for a better understanding of the causes, consequences and challenges arising from this process of circulation of disinformation related to science and health.
Therefore, the proposal of this dossier is to discuss the different regimes of truth, belief systems and moral grammars in which the actors are based to elaborate critiques of science and justifications to contest or defend epistemic authorities around scientific controversies and their political crossings.
Some of the topics of interest in this dossier, but not limited to them, include:
- The different perspectives on the meanings attributed to misinformation, especially, scientific disinformation and health science misinformation;
- Analyses of the meanings given to science and its representations in the processes of scientific disinformation;
- Research that discusses the disinformative processes related to science and health through themes concerning vaccination, "denialism", "fakenews", "fake sciences", "para-science";
- The different uses of science and health, and their imbrications with politics, paying attention to the assumption that there is no separation between these fields, what interests us is how these intersections are constructed and defended;
- Disinformative processes related to prevention and health care;
- Studies on ways, strategies to confront and combat scientific disinformation in health;
- Researches that analyze qualification processes, messages and audiences of disinformation actions/campaigns;
- Analysis of categories and framing typologies of disinformation in science and health;
- Transnational flows of circulation of scientific disinformation;
- Altmetric studies and communities of attention network around health disinformation;
- Investigations on disinformation and democracy that analyze the role of public managers, political agents and collectives in disinformation processes in science and health.
Guest Editors: Hully Guedes Falcão (Fiocruz), Thaiane Oliveira (UFF) and Ronaldo F. Araújo (UFAL).
Submission deadline: March 15th, 2022.
Publication: April/June 2022
When submitting the paper, please use category Dossier Multidisciplinary perspectives on disinformation in science and health.
Dossier Perspectivas multidisciplinares sobre la desinformación en ciencia y salud (v. 16, n. 2) Abril/Junio 2022
Muchas de estas formas de desinformación relacionadas con la ciencia utilizan la propia producción científica para validar argumentos y sistemas de creencias, aunque sean contrarios a la evidencia científica imperante, lo que cambia significativamente la forma en que la información científica circula en los medios de comunicación y en los entornos digitales. Y los elevados índices de compartición que alcanzan estas investigaciones, calibrando un aparente impacto social a través de métricas alternativas que miden su rendimiento en las fuentes de la web social, agravan aún más los retos de entender lo que representa su recepción y circulación.
En un contexto de crisis sanitaria global, la autoridad de las comunidades epistémicas modernas queda momentáneamente suspendida, dando paso a la emergencia de otras autoridades, ya no las consolidadas en la modernidad, tensando los valores democráticos ya debilitados en un contexto de crisis institucional y epistémica. En este contexto, surgen los influenciadores digitales, líderes religiosos, comunitarios o políticos que ejercen influencia en la forma en que los sujetos se relacionan con la información científica relacionada con la salud, afectando directamente a la forma en que los sujetos reciben la información científica.
En este contexto de disputas por la información relacionada con la salud, el objetivo de este dossier es crear una interlocución entre diferentes áreas de conocimiento para arrojar luz sobre los procesos de desinformación, especialmente cuando están relacionados con la ciencia y la salud. A pesar del crecimiento de los estudios centrados en la desinformación y la salud, la comprensión de los mecanismos de consumo de información y percepción sobre la comunicación pública en salud y los usos sociales de la ciencia es de gran relevancia, especialmente en un contexto de crisis sanitaria. Por lo tanto, es de gran importancia compilar colecciones que tengan como propuesta realizar articulaciones multidisciplinarias para una mejor comprensión de las causas, consecuencias y desafíos que surgen de este proceso de circulación de desinformación relacionada con la ciencia y la salud.
Por lo tanto, la propuesta de este dossier es discutir los diferentes regímenes de verdad, sistemas de creencias y gramáticas morales en los que se basan los actores para elaborar críticas a la ciencia y justificaciones para impugnar o defender a las autoridades epistémicas en torno a las controversias científicas y sus cruces políticos.
Algunos de los temas de interés de este dossier, pero sin limitarse a ellos, son:
- Las diferentes perspectivas sobre los significados atribuidos a la desinformación, especialmente, la desinformación científica y la desinformación en ciencias de la salud;
- Análisis de los significados otorgados a la ciencia y sus representaciones en los procesos de desinformación científica;
- Investigación que discute los procesos desinformativos relacionados con la ciencia y la salud a través de temas relacionados con la vacunación, el "negacionismo", las "fakenews", las "ciencias falsas", la "paraciencia";
- Los diferentes usos de la ciencia y la salud, y sus imbricaciones con la política, prestando atención a la asunción de que no hay separación entre estos campos, lo que nos interesa es cómo se construyen y defienden estas intersecciones;
- Debate y reflexión sobre los significados de la crisis (moderna, científica, sanitaria)
- Procesos de circulación de la desinformación relacionada con la prevención y la atención sanitaria;
- Estudios sobre formas y estrategias para afrontar y combatir la desinformación científica en materia de salud;
- Investigaciones que analizan los procesos de cualificación, mensajes y audiencias de las acciones/campañas de desinformación en salud;
- Análisis de categorías y tipologías de encuadre de la desinformación en ciencia y salud;
- Flujos transnacionales de circulación de desinformación científica;
- Estudios de Altmetric y de redes de comunidades de atención en torno a la desinformación sanitaria;
- Investigaciones sobre desinformación y democracia que analizan el papel de los gestores públicos, agentes políticos y colectivos en los procesos de desinformación en ciencia y salud.
Editores invitados: Hully Guedes Falcão (Fiocruz), Thaiane Oliveira (UFF) y Ronaldo Ferreira de Araújo (UFAL).
Plazo de sumisión: 15 de marzo de 2022.
Publicación: abril/junio de 2022.
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